sábado, 10 de janeiro de 2015

CÁRCERE EMOCIONAL
“Temos medo da liberdade. A liberdade assusta o homem, ao contrário da escravidão, o impede de viver plenamente o presente porque esvazia o passado e o faz acreditar que não se pode sonhar, voar e esperar”.
(Papa Francisco)
Durante a minha graduação, um dos estágios foi na área de Psicologia Forense. Eu realizava a parte prática do estágio na Cadeia do São Bernardo em Campinas. Um dia me perguntaram por que eu havia escolhido a cadeia se poderia ter optado pela Delegacia da Mulher, por exemplo, onde então eu estaria ajudando mulheres e não infratores. Fui um dia à DDM com a amiga que havia optado por estagiar lá e saí com a certeza que, para mim, era muito mais fácil enfrentar o “cadeião”.
Assistir àquelas mulheres chegando todos os dias, visivelmente machucadas para denunciar os agressores e, no dia seguinte vê-las voltando para retirar a queixa me fazia mal. Somos um povo machista, diariamente, muitas mulheres são violentadas e mortas, mas quero falar de algo bem mais sutil, porém igualmente doloroso e praticado por indivíduos de ambos os sexos: o cárcere emocional.
É muito fácil ilustrar um cárcere quando se trata de uma mulher que vive um relacionamento afetivo com um parceiro que a violenta física e verbalmente e não entender porque ela se mantém ali, porque cede sempre e porque se nega a aceitar qualquer tipo de ajuda. Uma mulher que se mantém presa numa relação violenta, desprovida de qualquer autoestima, é motivada pelo medo e por acreditar que aquele tipo de comportamento agressivo é afetivo. Ela acredita mesmo que o parceiro a ama, e acredita que não será amada por mais ninguém. Como ela não se gosta, acaba acreditando que não merece nada mais do que aquilo.
A violência física e/ou verbal, além de ser um desvio de conduta, é também uma tentativa de controle, de ameaça, e vem de pessoas que acreditam mesmo ter o direito de agir assim com o outro. A grande questão é que as pessoas que vivem sob o cárcere emocional nem sempre são agredidas fisicamente. Não é preciso bater para machucar, muitas vezes um olhar, um tom de voz ou uma palavra machucam muito mais e exercem um controle nada saudável. Se a relação gera medo, insegurança ou desconforto constante, o sinal é de que há cárcere emocional. É exatamente o “afeto” que muitas vezes é usado como forma de controlar o outro. Seria mais ou menos assim: “eu te amo desde que....” ou “eu te amo” verbalizado associado a ações contrárias ou mesmo um “então não te amo mais”. Muitas pessoas vivem presas em relações que já deram enormes sinais de serem nada afetivas, porém, estão encarceradas com medo do mundo, do novo, da vida. Algumas chegam a dar desculpas como dependência financeira – como se dinheiro e afeto tivessem alguma ligação! Não tem viu, e nem devem ter!
Lembro-me de ter acompanhado profissionalmente poucos casos nos quais se envolvia violência física, porém me lembro de muitos dos meus pacientes presos em cárceres emocionais, cujos algozes eram os pais, os filhos, os amigos ou companheiros. Relações que eram foco da terapia, pois os mantinham presos, tensos e com um medo parecido com o da mulher que espera amedrontada com que humor o marido violento vai chegar. Talvez vocês se lembrem de alguns casos nos quais mulheres foram mantidas em cárcere desde ainda muito meninas. Elas, ao saírem, não tinham a menor noção do que acontecera. Acreditavam que seus algozes as amavam, porque cuidavam delas, as mantinham protegidas, quando na verdade eram mantidas acorrentadas, em sótãos e estupradas. Talvez para elas aquilo fosse afeto. Talvez as mulheres que vi na DDM acreditem serem amadas e acreditem que o melhor seja estar ao lado do agressor, porque têm medo, porque já eram agredidas desde a infância, porque se acham um lixo.
Acredito que as relações devam evoluir para a liberdade. Analisemos a nós mesmos e vejamos se não estamos encarcerados – ou pior – se não estamos encarcerando alguém com algum tipo de afeto cobrado, ou algum tipo de ameaça, ou mesmo de violência. Antes de se chocar, pense se seu amor é mesmo incondicional ou se você emburra, faz cara feia e diz que não ama mais quando o outro não faz exatamente o que você quer. Relações são ruas de duas mãos que devem fluir em ambos os sentidos, não apenas no seu. Não há afeto no cárcere. A liberdade e o respeito são bases para toda relação real.


sábado, 3 de janeiro de 2015


A CULPA NOSSA DE CADA DIA

“A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos”. 
(Thoreau)

Para cada ação, milhões de juízes.
A expressão de opiniões parece ter pulado a cerca do bom senso; ou as redes sociais trouxeram isso à tona, ou libertaram de vez o "direito a inquisidor" de cada um de nós.
Outro dia me peguei adivinhando os "donos das postagens" no Facebook, apenas pela postagem em si, consegui isso dez vezes seguidas e fiquei meio perplexa. As coisas têm se tornado obvias demais. As pessoas têm sido previsíveis e se me permitem, pouco pensantes.
Culpa de quem?
Pronto, agora posso começar o meu texto!
Já se perguntou o que a "culpa" tem feito na sua vida?
Pois eu respondo:
-Um estrago!
Vivo rezando "...mas livrai-me da autocrítica, amém". 
Por quê?
Porque estamos todos presos em um círculo vicioso na busca de culpados para tudo, enquanto que, dialeticamente vivemos paralisados, feito estátuas catatônicas, adoecendo simplesmente por errar, e ao errar, enfrentar a aterrorizante pergunta:
"O que os outros vão pensar, dizer, achar?"
Julgamos, culpamos e condenamos sem dó, enquanto morremos de medo por achar ou saber que farão o mesmo conosco.
Criamos a prisão perfeita para nós mesmos.
Se Deus castiga, imagina o vizinho da frente? 
O colega de trabalho?
O "irmão" da igreja?
Olhares retalhadores, com poder de provocar dor, medo, angústia e "morte". Fuxicos, acusações e penas implacáveis.
Somos lobos em pele de cordeiro, inimigos em papel de amigos, falando nisso:
-Quer saber quem são seus amigos?
-Cometa um erro!
...pois a maioria irá te responsabilizar de alguma forma, irá ter pena talvez, e se afastar.
Ser humano não sabe lidar com frustração, nem com nada que tenha dado errado. Quando isso acontece, corre para encontrar um culpado, e então fica em paz, achando-se seguro.
Querem ver?
-Fulano está com câncer.
-Ah, mas ele fumava, (ou bebia, ou foi uma pessoa ruim...).
-Meu amigo bateu o carro!
-Ah não presta atenção no transito (ou corre demais, ou andava distraído...).
-Pai, minha amiga brigou comigo.
-Alguma coisa errada você fez!
-Meu irmão perdeu o emprego.
-É inveja, é muita inveja...
-O meu filho não dormiu bem à noite.
-Botaram "quebrante" nele.
Maravilha!  Explicações encontradas... E SÓ!
Já experimentaram parar de dar respostas confortáveis e perguntar o que podem fazer para ajudar?
Culpa nunca foi cura, nem muito menos solução para nada nessa vida, nem sei se ajuda em algo, pois já temos nosso próprio superego para fazer o "trabalho sujo".
Ando me deparando com gente que viciou tanto em julgar e condenar os outros que perdeu a noção de si mesmo, do mal que propaga, aos outros e a si próprio.
Vamos julgar menos o peso, as roupas, o carro, a religião, a opção sexual, a forma de viver dos outros, afinal de contas, somos todos livres e vivendo numa sucessão de ensaios e erros.
Ninguém tem a fórmula.
Ninguém sabe o que está do lado de lá.
O mundo é um pouco mais do que enxergamos por nossa janela (real ou virtual) e, cá entre nós, a sua opinião é só a sua opinião, e essa minha que você lê agora também.
Me diz: Onde e quando nos deram o direito de julgar alguém?
É tão bom ter amigos, é tão bom ter com quem contar. Melhor ainda é ser você mesmo e saber que o afeto pode ser propagado sem culpa. É bom saber que sua família te ama, independente do que você seja e de quais sejam as suas escolhas. 
Enquanto postam o tal "dance como se ninguém estivesse olhando", lembre-se de não olharem a forma como os outros dançam.
Amem, incondicionalmente.
Respeitem, para que possam ser respeitados.
Libertem-se para serem libertados...

sábado, 27 de dezembro de 2014


MEUS DESEJOS PARA O ANO NOVO


Quero alegria nos rostos, quero gente feliz, ou melhor, quero gente que saiba ser feliz!
Quero força para lutar e vontade de mudar.
Quero políticos honestos, empresários comprometidos, e povo participativo.
Quero gente que reclama menos e faz mais.
Quero que o brasileiro aprenda o conceito de coletividade (de uma vez por todas).
Quero o fim dos maus tratos, do abandono e do uso dos animais.
Quero saúde, educação, saneamento, e todos os outros itens que fazem ser possível se viver com decência.
Quero o fim do fanatismo religioso, e o fim dos aproveitadores da "fé", quero o fim dos alienados e o fim do uso do santo nome em vão.
Quero o respeito ao semelhante, quero o fim do preconceito, do racismo, da homofobia, do machismo e de toda a violência causada por esses equívocos.
Quero trabalho e gente disposta a trabalhar.
Quero a valorização da arte e da cultura, quero o respeito aos artistas (já está mais do que na hora) porque eles são melhores do que nós e têm muito a nos proporcionar.
Quero música.
Quero o fim da impunidade, mas quero também justiça aos que descumprem as leis da vida.
Quero crianças alimentadas, cuidadas e seguras. Quero o fim de todo o tipo de violência contra elas.
Quero o fim das guerras, de todas, isso inclui o oriente médio, os estádios de futebol e as nossas casas.
Quero educação nas escolas, respeito aos professores e salários mais justos para essa que é a a mais sagrada das profissões.
Quero pais que educam, que amam e se dedicam aos seus filhos.
Quero dignidade em toda a área de saúde, quero apoio aos cientistas e quero a cura do câncer.
Quero mesas fartas, mas quero também que parem de jogar comida fora.
Quero rios limpos e florestas protegidas, quero respeito ao planeta.
Quero fogo, água, terra e ar em equilíbrio e, no caso da água, quero em ambundância.
Quero menos lixo e mais flores espalhadas pelo chão.
Quero menos smarthphones e mais livros nas mãos das pessoas.
Quero menos rasteiras e mais abraços.
Quero tempo e espaço, quero menos transito e mais caminhos.
Quero mais viagens e menos cirurgias plásticas - nada pessoal - é que trocar a roupa da alma é melhor.
Quero menos sofrimento, menos rejeição, menos frustração, na verdade eu quero que saibamos lidar com isso "de boa" porque faz parte do jogo.
Quero menos orgulho e mais perdão, quero menos “eu” e mais “nos”, menos “ter” e mais “ser”.
Quero que aquele papo de "amar ao próximo como a si mesmo” passe a fazer sentido, quero menos palavras e mais ações.
Quero amor.
Quero recomeço.
Para finalizar:
QUERO AGRADECER, MUITO E SEMPRE, POR TUDO!
Que assim seja!
Um lindo 2015 a todos.

domingo, 21 de dezembro de 2014

OBESIDADE E CARÊNCIA
"A sensação de incompletude se manifesta como um 'buraco' no estômago. É fácil confundi-la com a fome: é preciso atenção para não ficar obeso." (Flávio Gikovate)

Em tempos nos quais a medicina tem atribuído muitos casos de câncer à obesidade, decidi escrever a vocês sobre algo muito visto e falado dentro dos nossos consultórios: a ligação entre obesidade e a sensação emocional de falta, de incompletude que sentimos em alguns momentos da vida.
Quem nunca comeu para suprir uma carência? E por que nunca se come alface nesses casos? A escolha pelo alimento é questão de prazer e está ligada à produção de serotonina. Está comprovado que o chocolate, por exemplo, provoca sim uma sensação de muito bem estar depois de ingerido, já a alface, não. Muitas, talvez a maioria das causas da obesidade esteja ligada à compulsão, ao comer por impulso para suprir um buraco no estômago que não é físico.
Alguns psicoterapeutas acreditam que as dietas para emagrecer acabam fracassando porque levam o indivíduo a pensar muito no assunto, a pensar muito em comida e como consequência, acabarem comendo mais. Pessoas magras não contam calorias, não ficam o tempo todo falando em dietas e não comem para satisfazer carências. Elas têm outros prazeres e por isso não precisam busca-lo na comida. Quer a prova? Apaixone-se! Por algo ou por alguém. Os apaixonados, quando antes acima do peso, emagrecem pelo simples fato de voltarem a comer apenas para saciar a fome física e passarem a buscar prazer no lugar certo. A paixão nos motiva. Pode ser paixão pela vida, por outro indivíduo, por uma arte ou mesmo pelo trabalho.
Em um mondo paradoxal, no qual somos cobrados o tempo todo sermos perfeitos esteticamente, chegando a sacrificar dinheiro e saúde, a população engorda a cada dia. O número de pessoas cujos comportamentos são de compulsão alimentar cresceu nos últimos vinte anos e cresceu muito também, paralelo a isso, o número de pessoas solitárias. O individualismo e as dificuldades de relacionamento interpessoal crescem a cada dia e provocam um “vazio no nosso estômago” e em todo o resto. Confesso a vocês que isso não é só visto em grandes cidades não. Eu não vi diferença na distância interpessoal que se estabelece aqui em São Paulo, da que via na nossa Limeira. É cada um por si e a busca pelo convívio tem sido cada vez mais ligada ao interesse. Desaprendemos de como conviver, de como trocar as energias ao relacionar-se pelo simples fato de que nossa natureza é assim. Sentimos o tempo todo esse vazio, e não culpem apenas os smartphones; eu, sendo bem sincera, acredito que eles sejam mais consequência do que causa do nosso distanciamento uns dos outros.
Uns compram, outros se drogam, e muitos comem. Enfiam a cara no bolo de chocolate porque somos carentes sim, e trocar afeto está cada dia mais difícil. Já repararam que, sozinhos, comemos muito mais? E a melhor: que comer em boa companhia e em um momento de bate papo prazeroso não engorda? Todos nós conhecemos pessoas que cozinham maravilhosamente bem, que adoram comer e que são magras. Vejam bem, são magras, saudáveis, mas não “androides” esquisitos, cujos corpos parecem ter sido fabricados em laboratórios. Não acredito em prazer, nem tampouco em magreza alguma fabricada pela ingestão restrita de frango e batata doce. Como não é minha área, deixo aos médicos endocrinologistas o papel de esclarecer as doenças que isso pode causar.
Sempre brinco com as minhas amigas dizendo que “quem fica murchando a barriga na hora de transar, não goza”, porque essa neurose pelo corpo perfeito também é compulsão. Se comer ou fizer sexo com esses padrões compulsivos de comportamento, não vai funcionar; por outro lado, ao saborear um alimento, qualquer um, com e por prazer, acredite, não vai engordar.
A comida não tapa o buraco e o vazio provocado pela falta de afeto que sentimos, e afeto, como disse o sábio São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”.
Ame mais e emagreça.



sábado, 6 de dezembro de 2014

MULHERES MALVADAS

Eu estava na área de recreação infantil de um hotel, no litoral, onde fomos passar o último feriado. Arthur brincava entre outras crianças, até que, resolveu pegar e esconder a bolinha de pebolim interrompendo assim a brincadeira das “crianças grandes”. Imediatamente os meninos me olharam e pareciam dizer: “mãe, olha seu filho e faça alguma coisa!”. Eu me levantei, peguei a bolinha das mãos do Arthur, a devolvi aos meninos e comecei a ouvir o choro e as lamentações do meu filho. Eu disse apenas: “-Arthur a bolinha é da mesa de pebolim e eles estão jogando. Você não pode pegá-la e esconder.” Voltei então ao sofá de onde eu o observava de longe. Ele só tem três anos e meio, ainda preciso vigiar quando ele brinca em locais estranhos. Ao ouvir a reação natural do meu filho à frustração outra mãe se levantou, olhou para mim e disse: “-Deixa ele!” Além disso, foi em direção ao Arthur e começou a consolá-lo. Ele, claro, respondeu positivamente enquanto ela brincava, falava mansamente com ele, o agradava e, ao mesmo tempo, me olhava com condenação e parecia dizer: “Está vendo como se faz”! Como psicóloga comportamental eu afirmo que reforçar um comportamento negativo o tornará mais comum, ou seja, se o Arthur for agradado e consolado quando roubar e esconder bolinhas, ele vai fazer isso sempre.
Agora entra o meu tema dessa semana. Por que as mulheres, mesmo nessa situação tão complexa que é a de educar e mostrar aos filhos como o mundo funciona, competem entre si e se mostram tão pouco afetivas e solidárias umas com as outras? Ao ver a cena eu ignorei ambos e então comecei a me lembrar de que infinitas foram às vezes nas quais eu ouvi outras mães, algumas muito amigas e bem próximas, discursarem sobre a quase perfeição de seus atos enquanto eu contava ou dividia da forma mais humana possível as minhas falhas, os meus medos ou as minhas dúvidas enquanto mãe. Mães erram sim, mas erram tentando acertar. Responder relatando a sua forma perfeita, adequada e sempre correta quando outra mãe lhe confessa algo é no mínimo cruel, e mostra uma incapacidade de ouvir e uma necessidade grande de autoafirmação – coisa de gente que precisa “enfrentar o divã”.
Penso que, se na cena acima fossem dois pais, eles teriam conversado entre si, compartilhado das dificuldades enfrentadas com os filhos de três anos e meio, talvez um dissesse ao outro: “o meu é igualzinho” e a conversa seguiria com empatia e com frases como: “ah deixe chorar, faz parte, a vida é assim”. E é mesmo.
A competição agressiva e desenfreada entre as mulheres, chamada no senso comum de falsidade é vista desde a infância. Menininhas antes dos sete anos já se boicotam e se envolvem em episódios maldosos. Homens são mais sinceros sim, porque não tem a necessidade constante de competir e vencer. Os homens parecem se identificar mais uns com os outros; existem até piadas e chavões que mostram bem esse padrão de comportamento.
Por que somos tão “falsas”? Por que temos essa dificuldade imensa de nos desarmarmos, de nos ajudarmos, de confessar nossas fraquezas, nossos medos, nossos fracassos e nossas celulites? Acabamos por saborear uma solidão desnecessária. Seres humanos, por espécie, vivem em bandos. A amizade é uma das formas mais saudáveis e mais prazerosas de convívio. Ter com quem contar para quem contar é muito importante para nossa saúde mental durante toda a nossa vida. Vejo com frequência mulheres que, na terceira idade não têm amigas, e tê-las seria tão bom e tão importante nessa fase mais calma da vida, nas quais não se ouvem mais as birras, mas se lembram delas com saudade.
Vindo de uma estranha ou de uma grande amiga, a verdade é que, ao ser vista no papel de mãe, todas nós já fomos condenadas – porque julgar ou simplesmente falar da outra é a coisa mais fácil e mais gostosa do mundo para quem não é capaz de se identificar com o outro nem tampouco de amar. Tenho me dedicado atualmente aos autores contemporâneos que escrevem sobre amor em seu mais profundo significado. Amor está em extinção. Ao começar desabafando sobre meu filho que demorou a falar e terminar ouvindo o perfeito desempenho do filho da outra que com pouco mais de um ano falava frases inteiras o que sinto é solidão e a mais pura falta de afeto e empatia. Quem tem prazer ao ouvir a dor alheia sem se comover precisa se lapidar enquanto gente. Há quem diga que a necessidade de tanto aplauso e a incapacidade de ouvir e de acolher o outro um dia há de fazer dessas mães mulheres ausentes e solitárias.
Por que não trocarmos nossas experiências? Por que não se abrir e se ajudar? Por que não caminharmos juntas como semelhantes que somos? Ninguém é melhor do que ninguém e aqui vou abrir um parêntese e confessar: ser psicóloga não faz de mim uma mãe melhor do que qualquer outra; conheço a técnica, mas na teoria é muito fácil e na prática eu me permito como diz Carl Jung, a “ser apenas uma alma humana”.
É uma reflexão complexa demais para o pouco espaço que tenho aqui, mas minha proposta é sempre nos levar a pensar e a mudar. A difícil tarefa da maternidade é apenas um dos aspectos da nossa vida. Nós mulheres precisamos umas das outras, como profissionais, como companheiras, como gente. Por que competimos tanto? Por um homem? Por uma promoção profissional? Por um, ou muitos olhares de admiração? As mulheres dizem ter medo e asco da inveja enquanto que, hipocritamente o tempo todo buscam olhares invejosos. Já ouviram falar em empatia? A empatia é a resposta afetiva a outras pessoas, ou melhor, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação. Talvez seja o momento de começarmos a praticá-la, a nos colocar no lugar do outro ao invés de mostrar o quanto, em nossa opinião, nos achamos tão melhores. Quem propaga uma vida perfeita esconde sujeira debaixo do  tapete.
PS: Quero agradecer a todos os e-mails e mensagens via Facebook que chegaram e que continuam chegando. Esse foi o primeiro texto que escrevi já da minha nova residência em São Paulo. Espero que continuem escrevendo e solicitando temas. Vamos continuar refletindo juntos. A vida na capital tem me proporcionado novas possibilidades de aprimoramento dentro da minha ciência e quero dividir cada nova descoberta com vocês.

sábado, 29 de novembro de 2014

ENSINA SEUS FILHOS A AMAR

Vamos falar de amor?
Dia desses, conversando com uma amiga, ouvi a seguinte frase:
“Falta amor no discurso dele, Vivi!”
Aquilo ficou martelando na minha mente, ela conseguiu definir algo que eu já enxergava: gente que sofre de falta de amor. Falta amor nas palavras, nos olhos, nos gestos...
Muitos já devem ter visto um chavão que está bem na moda: MAIS AMOR, POR FAVOR!
E pensando sempre nessa divina missão de colocar seres humanos melhores no mundo, te convido a refletir comigo sobre o amor e sobre a forma com que ele se propaga.
Quantas vezes você já parou para pensar e analisar o quanto de amor existe nas quase vinte mil palavras que você fala por dia?
Desde que acordamos, somos pensamentos e palavras, que irradiam energia por toda nossa volta e que, podem ser uma bela arma de proliferação de amor (ou de outros sentimentos não tão bons).
Vamos fazer um teste.
Muitas vezes impregnamos nossa vida e os ouvidos de nossos filhos com palavras negativas, pensamentos catastróficos e ideias ameaçadoras. Veja alguns exemplos:

-Isso é feio!
-A moça vai ficar brava!
-O doutor vai te dar injeção se você não parar.
-Se seu amigo bater, bata nele também!
-Eu vou contar para o seu pai.
-Se você agir assim, ninguém vai gostar de você.

Isso sem contar as tantas conversas que nossos filhos ouvem – e absorvem. Já se perguntou o que seu filho te ouve falar?  Que opiniões ele assiste você emitindo sobre algo ou alguém?
Falta amor no discurso do outro - e no nosso também!
Temos como dizer a mesma coisa de formas diferentes. Ao ensinarmos nossos filhos a ter amor e compaixão por tudo e todos a sua volta, nos mostramos modelos de conduta a ser reproduzida por eles. Nossos filhos são criados com exemplos, eles são com esponjas a absorver tudo, inclusive o amor.
Como sempre digo ninguém dá o que não tem, se você não tiver amor, não poderá amar, então o busque dentro de si. Não basta amar seu filho, até porque, com o perdão da palavra, amar um filho é a coisa mais fácil do mundo, é como respirar, o fazemos, sem pensar. Porém, se apesar disso, agirmos com pouco amor ao resto do mundo, de nada vai adiantar.
É preciso amor e compaixão também com o resto da família, com os amigos, companheiros de trabalho, quem está a nossa volta, com quem nos presta um serviço, com quem é diferente da gente, com quem não depende de nós e de quem não dependemos.
Aquele papo de “amar ao próximo como a si mesmo” é sério e bem importante. O amor é a cura de todos os males. Uma sociedade mais digna, mais segura e mais feliz se faz, acima de tudo, com amor.

Dicas simples para ensinar nossas crianças a amar:
-Ensine o amor aos animais. Permita que seu filho tenha um bichinho de estimação
-Mostre respeito e compaixão por quem está trabalhando, por exemplo: mostre aos pequenos a gratidão que deve ter aos coletores de lixo, detalhando como é o trabalho deles e para que serve. Isso vale para todos que trabalham para o nosso bem estar.
-Ensine-o a dizer sempre “muito obrigado”, faça isso dizendo, aos outros e a ele próprio.
-Jamais critique alguém diante do seu filho, procure explicar apenas que aquela pessoa pensa e age de forma diferente, exercendo o direito dela. Isso vale para assuntos como política, religião, futebol e tantos outros.
-Diga sempre que o ama e demonstre seu amor por outras pessoas do convívio da família, tais como pais, avós, etc.
-Seja sempre otimista: evite reclamar, blasfemar e xingar.
-Caso não esteja bem, diga que é só um mal estar, ou uma preocupação, e que vai passar. As crianças tendem a criar fantasias de culpas que não têm. Tranquilize-a de que nada tem a ver com ela, e que todas as tristezas passam (porque passam mesmo...).
-Quando tiver que impor limites, faça-o com firmeza, explique a situação com clareza e após a punição, demonstre seu amor, isso cria seres humanos mais seguros.
-Ame, ame incondicionalmente! É nítida a diferença no olhar das pessoas que se permitem amar.

sábado, 15 de novembro de 2014

ADOLESCENTE – MANUAL DO USUÁRIO – PARTE II

Terminei na semana passada dizendo que continuaria falando sobre adolescência, dizendo que não devemos abrir o forno antes da hora. Nosso assunto de hoje continua sendo a adolescência e a hora certa de abrir o tal forno.
Por que nos apressamos tanto? Por que abrimos o forno antes da hora? Por que o deixamos queimar? Se por um lado estamos mantendo nossos filhos de trinta anos debaixo das nossas asas, o que tenho visto em escala cada vez maior são crianças agindo como adolescentes e por isso, preciso alertar: o risco emocional ao se pular ou apressar fases do desenvolvimento humano é avassalador!
Dia desses uma amiga me perguntou, bastante preocupada e sofrendo muito:
-Vivi, existe algum risco ou malefício em deixar a minha filha de oito anos usar esmalte? Respondi a ela e respondo a vocês:
-Não! O Problema não está no esmalte. Meninas reproduzem o comportamento das suas mães na busca pela identidade sexual. Usam seus sapatos, seus colares, querem pintar as unhas e usar batom! Enquanto esse comportamento estiver ligado á identificação, tudo bem; faz parte do desenvolvimento esse “experienciar” de papéis. O importante é que junto dos esmaltes, da maquiagem e das bijouterias (que devem ser específicas para crianças) estejam os brinquedos e as roupas adequadas às meninas dessa idade.
Existe uma diferença muito clara em permitir que sua filha use batom da de permitir que ela imite uma adulta vinte e quatro horas por dia, que faça escolhas sem supervisão alguma, que não tenha rotina diária, que vá a eventos direcionados a adultos, que ouça conversas de adultos e que, aos sete anos diga que acha Barbie coisa de criança pequena. Até os dez anos o natural é que se interesse por brinquedos e não que seja motivo de chacota por isso! Confesso que sou grata por ser mãe de menino nessas horas, neles, a transição entre os brinquedos e os jogos eletrônicos parece correr em maior calmaria, os esportes os acompanham por um longo período (eterno para alguns) e a forma com que se vestem os homens desde muito pequenos é de me dar inveja, simples, prático e confortável.
Não acho natural, nem tampouco saudável que meninas de nove ou dez anos deixem de brincar, que entendam profundamente de moda, de relacionamento afetivo, e nem que frequentem apenas ambientes povoados por mulheres adultas. Você pode sim levar sua filha com você ao salão de beleza, mas fique atenta sobre as razões pelas quais está fazendo isso – seria um momento de vínculo entre vocês ou apenas está facilitando sua vida?
Para que nossos filhos possam entrar e sair da adolescência de forma saudável é preciso que tomemos alguns cuidados e, o principal deles é não apressar o processo. Cada indivíduo tem seu tempo e, se aos quinze já se tiver “vivido tudo” o que se fará até os vinte? Fiquem atentos pais, e aqui vão alguns toques importantes para serem mantidos até a chegada da adolescência:
-Crianças e adolescentes PRECISAM de rotina, é imprescindível que o ambiente propicie isso para que a mente deles possa se desenvolver. É preciso ter horário para acordar, para dormir, para tomar banho, para se alimentar e é preciso que algum adulto supervisione as suas atividades. Aos seis anos a supervisão é intensa e vai ficando mais leve ao longo do tempo, mas não deve desaparecer. Nenhum pai deve confiar totalmente no seu filho até a idade adulta, isso é muito importante. Finais de semana existem para se quebrar a rotina, mas se ela não existe, fica difícil!
-Não permita que seus filhos façam todas as suas escolhas sozinhos. Participem, demonstrem interesse. Não concordem sempre, questionem e, se for preciso, imponham sua vontade algumas vezes para que o comando não seja unilateral. Permita que ele durma na casa de um amigo, mas diga que no dia seguinte ele acompanhará você (ou vocês) em uma pizza, por exemplo.
-Procurem, com o início da idade escolar (ensino fundamental) oferecer atividades extracurriculares. É muito importante que, na entrada da adolescência, seu filho já tenha escolhido algo que goste de fazer – esta atividade está ligada aos esportes ou à arte, tanto faz, mas ele tem que gostar de algo, e, para descobrir que gosta, precisa ser apresentado – isso é função dos pais. A atividade, o hobby, esse interesse por algo que lhe dá prazer vai ajudar muito - na verdade, vai ser imprescindível quando as frustrações da adolescência chegarem – e pode garantir uma distância segura dos alucinógenos – porque esses são apresentados como artifícios de esquecer as dores, os medos e as frustrações tão comuns nessa fase da vida. Aos dezesseis anos, eu tocava piano toda vez que me sentia triste, então lhes pergunto: O que poderia ter sido se meus pais não tivessem me apresentado à música?
Meninos e meninas caminham, cada um em seu tempo, em sua velocidade, para a idade adulta e para chegar, passam pela turbulenta fase da adolescência. Mesmo seguindo todas as dicas, não é fácil. Somos pais apressados e ansiosos numa sociedade turbulenta, porém, até a idade adulta,  a responsabilidade é nossa.